domingo, 20 de julho de 2008

O trabalho interdisciplinar via pesquisa de campo
Como definir a expressão “pesquisa de campo”? Prática pedagógica desenvolvida desde a educação infantil até a pós-graduação, nem sempre é devidamente refletida, sobre seu significado e eficácia na aprendizagem, por parte dos profissionais que se utilizam dela para o desenvolvimento do seu trabalho – os professores.

Conhecida na educação básica como “passeios de estudos” ou “viagem de estudos”, principalmente na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, tem nos cursos de graduação e pós-graduação o uso corrente a expressão “trabalho de campo” ou “saídas de campo”. Independente da denominação dada percebe-se ser a mesma atividade, porém aplicada a níveis de ensino diferenciados e com objetivos distintos.

A prática da pesquisa de campo, é compreendida, em geral, como uma atividade que “representa uma possibilidade concreta de contato direto entre pesquisador e realidade estudada, o que permite a apreensão de aspectos dificilmente vislumbrados através somente do trabalho em gabinete [atividades de reflexão, leitura e redação]” (CRUZ, 1997, p. 93). Tal expressão quando utilizada no ensino fundamental, nosso ponto de interesse, também deve ser entendida, a nosso ver, com este significado. Como já nos referimos, é marcada por especificidades inerentes ao nível de escolaridade, já que tem objetivos de formação específicos e trabalha com um grupo discente com características particulares.

Considerando ainda as reflexões apontadas por Cruz (1997), destacamos que a pesquisa de campo, não só no ensino superior como também na educação básica constitui atividade fundamental na formação dos estudantes, pois, há de se avaliar o caráter dinâmico da realidade. Muitas produções teóricas, como os livros didáticos, são rapidamente superadas, pois não conseguem acompanhar o intenso movimento das mudanças sociais, políticas, econômicas, ambientais, etc. A autora destaca ainda que “a visão que sem tem de um dado fenômeno ou espaço estudado é sempre carregada de uma certa carga de subjetividade, fruto do contexto sócio-cultural, histórico, econômico, político, religioso em que se insere o observador”, desta forma poder analisar pessoalmente tal aspecto da realidade possibilita a produção de um novo olhar; a produção de uma nova reflexão.


A interdisciplinaridade......ao caminhar

Considerando que o fazer da pesquisa de campo se dá sobre porções do real, vislumbramos a necessidade do olhar interdisciplinar para que esta determinada realidade possa ser compreendida de forma mais abrangente possível. De acordo com Santomé (1998, p. 55) “uma disciplina é uma maneira de organizar e delimitar um território de trabalho, de concentrar a pesquisa e as experiências dentro de um determinado ângulo de visão. Daí que cada disciplina nos oferece uma imagem particular da realidade, isto é, daquela parte que entra no ângulo de seu objetivo”.

Desta forma, a opção pelo trabalho interdisciplinar, independentemente do nível escolar discente, possibilita ao estudante elementos que o auxiliam para a compreensão do mundo que o cerca sem o olhar tão setorizado, mais reflexivo e crítico. Não estamos negando a eficácia, para determinados trabalhos, da análise particular de uma disciplina ou ciência, antes, mostramos a necessidade de ampliar o olhar para melhor conhecer. Para Santomé (1998, p. 44), a “complexidade do mundo e da cultura atual leva a desentranhar os problemas com múltiplas lentes, tantas como as áreas do conhecimento existentes”.

Associado a esta compreensão do trabalho de campo, é de fundamental importância resgatar a concepção de pesquisa que estamos trabalhando. Considerando que temos como proposta a formação, no ensino fundamental, de uma “educação para a pesquisa”, buscamos como afirma Bagno (1998, p. 17), “passar em revista o conceito mesmo de pesquisa”. Explorando esta idéia, o autor em sua análise resgata a origem latina do termo, perquiro, que “significava procurar; buscar com cuidado; procurar por toda a parte; informar-se; inquirir; perguntar; indagar bem, aprofundar na busca”. Bagno chama atenção para o fato de que “os significados desse verbo em latim insistem na idéia de uma busca feita com cuidado e profundidade”, situação, a nosso ver, bem diferente do que ocorre nas escolas, onde os “trabalhos de pesquisa” apelam para a superficialidade, muitas vezes centrados na cópia, sem qualquer preocupação ética com a produção acadêmica dos autores e com a produção do conhecimento.

Referências:
1- BAGNO, Marcos. Pesquisa na Escola – o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1998.
2- CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Os caminhos da pesquisa de campo em geografia. Revista Geousp, 1997, nº 1.
3- SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Artes Médicas,1998.

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