domingo, 27 de julho de 2008

MUSEU: memórias, lembranças, passado e presente
José Carlos da Silveira [1]


De acordo com a mitologia grega, da união de Gaia – a Terra mãe, com Urano – o Céu, nasceram muitos filhos. Dentre eles nasceu Memória (Mnemosyne). Esta por sua vez, casando-se com Zeus, teve 9 filhas, as Musas. Cada uma delas detém um pouco do conhecimento do mundo:


- Calíope: Poesia épica
- Clio: História
- Erato: Poesia lírica
- Euterpe: Música
- Melpômene: Tragédia
- Polímnia: Música cerimonial
- Tália: Comédia
- Terpsícore: Dança e
- Urânia: Astronomia

Onde moram as Musas? É num museu que vivem as filhas da Memória. “É a casa do conhecimento, das recordações e das lembranças, um lugar de sonhos. Mas, antes de tudo, é a casa da cultura que está presente em nossos valores, em nossos corpos, na língua que falamos. É um lugar onde o tempo passado se une ao tempo presente para tecer a nossa história, a história da nossa família, da nossa cidade, do nosso povo e da humanidade” (SECCO, 2008, p. 11).


O MUSEU DO JAGUNÇO

Já comentamos em outras postagens que nosso foco de discussão, durante o primeiro trimestre, se daria em torno de questões relacionadas a luta apela posse da terra no Brasil. Acompanhamos parte da rotina de um Assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, no município de Fraiburgo (SC). Neste estudo de campo, tivemos a oportunidade de conhecer o Museu do Jagunço, que fica em Taquaruçú, um distrito do referido município. Lá pisamos no solo que no início do século XX, serviu de palco para uma das mais sangrentas batalhas da Guerra do Contestado – a Revolta do Taquaruçú.

A guerra do contestado, em linhas gerais, foi resultante de questões relacionadas a disputa de terras entre Paraná e Santa Catarina (oeste catarinense); a construção da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande, com conseqüente expulsão de moradores da região; e, elementos da religiosidade local.


Personagens da Luta:












A tranqüilidade de hoje e o verde da paisagem local escondem um museu ao ar livre. Estar em Taquaruçú é entrar na “morada das musas” que vão nos revelando o passado a medida em que vamos observando as trincheiras, os restos de artefatos bélicos e com algum esforço os gritos e clamores da população e dos soldados no conflito.






Instrumentos de ataque e defesa:





















Referências:
1- AURAS, Marli. Guerra do Contestado – a organização da irmandade cabocla. 3ª. Ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2001.
2- MACHADO, Paulo Pinheiro. A Guerra Santa revisitada: novos estudos sobre o movimento do Contestado. Florianópolis: Editora da UFSC, 2008.
3- MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado: a formação e a atuação das chefias caboclas (1912-1916). Campinas: Editora da Unicamp, 2004.
4- SECCO, Patrícia Engel. Aventuras da Memória. Ed. Boa Companhia, 2008.



[1] Professor de Geografia do Colégio e Aplicação - UFSC

domingo, 20 de julho de 2008

O trabalho interdisciplinar via pesquisa de campo
Como definir a expressão “pesquisa de campo”? Prática pedagógica desenvolvida desde a educação infantil até a pós-graduação, nem sempre é devidamente refletida, sobre seu significado e eficácia na aprendizagem, por parte dos profissionais que se utilizam dela para o desenvolvimento do seu trabalho – os professores.

Conhecida na educação básica como “passeios de estudos” ou “viagem de estudos”, principalmente na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, tem nos cursos de graduação e pós-graduação o uso corrente a expressão “trabalho de campo” ou “saídas de campo”. Independente da denominação dada percebe-se ser a mesma atividade, porém aplicada a níveis de ensino diferenciados e com objetivos distintos.

A prática da pesquisa de campo, é compreendida, em geral, como uma atividade que “representa uma possibilidade concreta de contato direto entre pesquisador e realidade estudada, o que permite a apreensão de aspectos dificilmente vislumbrados através somente do trabalho em gabinete [atividades de reflexão, leitura e redação]” (CRUZ, 1997, p. 93). Tal expressão quando utilizada no ensino fundamental, nosso ponto de interesse, também deve ser entendida, a nosso ver, com este significado. Como já nos referimos, é marcada por especificidades inerentes ao nível de escolaridade, já que tem objetivos de formação específicos e trabalha com um grupo discente com características particulares.

Considerando ainda as reflexões apontadas por Cruz (1997), destacamos que a pesquisa de campo, não só no ensino superior como também na educação básica constitui atividade fundamental na formação dos estudantes, pois, há de se avaliar o caráter dinâmico da realidade. Muitas produções teóricas, como os livros didáticos, são rapidamente superadas, pois não conseguem acompanhar o intenso movimento das mudanças sociais, políticas, econômicas, ambientais, etc. A autora destaca ainda que “a visão que sem tem de um dado fenômeno ou espaço estudado é sempre carregada de uma certa carga de subjetividade, fruto do contexto sócio-cultural, histórico, econômico, político, religioso em que se insere o observador”, desta forma poder analisar pessoalmente tal aspecto da realidade possibilita a produção de um novo olhar; a produção de uma nova reflexão.


A interdisciplinaridade......ao caminhar

Considerando que o fazer da pesquisa de campo se dá sobre porções do real, vislumbramos a necessidade do olhar interdisciplinar para que esta determinada realidade possa ser compreendida de forma mais abrangente possível. De acordo com Santomé (1998, p. 55) “uma disciplina é uma maneira de organizar e delimitar um território de trabalho, de concentrar a pesquisa e as experiências dentro de um determinado ângulo de visão. Daí que cada disciplina nos oferece uma imagem particular da realidade, isto é, daquela parte que entra no ângulo de seu objetivo”.

Desta forma, a opção pelo trabalho interdisciplinar, independentemente do nível escolar discente, possibilita ao estudante elementos que o auxiliam para a compreensão do mundo que o cerca sem o olhar tão setorizado, mais reflexivo e crítico. Não estamos negando a eficácia, para determinados trabalhos, da análise particular de uma disciplina ou ciência, antes, mostramos a necessidade de ampliar o olhar para melhor conhecer. Para Santomé (1998, p. 44), a “complexidade do mundo e da cultura atual leva a desentranhar os problemas com múltiplas lentes, tantas como as áreas do conhecimento existentes”.

Associado a esta compreensão do trabalho de campo, é de fundamental importância resgatar a concepção de pesquisa que estamos trabalhando. Considerando que temos como proposta a formação, no ensino fundamental, de uma “educação para a pesquisa”, buscamos como afirma Bagno (1998, p. 17), “passar em revista o conceito mesmo de pesquisa”. Explorando esta idéia, o autor em sua análise resgata a origem latina do termo, perquiro, que “significava procurar; buscar com cuidado; procurar por toda a parte; informar-se; inquirir; perguntar; indagar bem, aprofundar na busca”. Bagno chama atenção para o fato de que “os significados desse verbo em latim insistem na idéia de uma busca feita com cuidado e profundidade”, situação, a nosso ver, bem diferente do que ocorre nas escolas, onde os “trabalhos de pesquisa” apelam para a superficialidade, muitas vezes centrados na cópia, sem qualquer preocupação ética com a produção acadêmica dos autores e com a produção do conhecimento.

Referências:
1- BAGNO, Marcos. Pesquisa na Escola – o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1998.
2- CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Os caminhos da pesquisa de campo em geografia. Revista Geousp, 1997, nº 1.
3- SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Artes Médicas,1998.

terça-feira, 15 de julho de 2008

O Trabalho de Campo no Ensino Fundamental

Manoel Pereira Rego Teixeira dos Santos [1]
José Carlos da Silveira [2]

As “saídas de campo” constituem um elemento da dinâmica pedagógica que promove o deslocamento do espaço físico da sala de aula, para um ambiente externo a ela, possibilitando, a estudantes e professores, o contato direto com as muitas dimensões das realidades que os cercam. Também conhecida por “estudo do meio” ou “viagens de estudos”, tal recurso é marcado pelo movimento em direção ao conhecimento [...].
A construção de objetivos, a preparação teórica do grupo docente e discente, o trabalho de planejamento e motivação, constituem elementos essenciais para esta modalidade de ação pedagógica [...].
A escala de ação do trabalho é algo a ser definida a parir das necessidades e condições do ambiente escolar: a rua da escola, o bairro onde mora o estudante, a praia mais próxima, o assentamento agrícola, o centro da cidade, o museu, e tantos outros, configuram-se como espaços, por excelência, para a prática da pesquisa orientada.Uma máquina fotográfica ou filmadora, uma prancheta ou um bloco de notas, de sandálias ou de tênis, o importante é trilhar a estrada do conhecimento.
[1] Professor, doutorando em História - UFSC.
[2] Professor de Geografia do Colégio de Aplicação -UFSC

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Planejamento, execução e revisão do texto

Tânia Mara Cassel Trott [1]

Elaborar um texto dissertativo-argumentativo capaz de obter êxito desejado, exige que o autor selecione muito bem os “fios” textuais e os “teça” com esmero. Daí a importância do investimento de tempo e disposição para projetar, fazer, reprojetar e refazer. Recomendamos esses procedimentos:

1. Decida sobre qual assunto irá argumentar dentre as linhas de pesquisa apresentadas e relacionado com a temática: a luta pela posse da terra. O Objetivo da produção é expor argumentos convincentes sobre o assunto selecionado para levar o leitor a crer no ponto de vista que você defende. Aproprie-se de argumentos que dêem sustentação para sua defesa. Para isso, é fundamental a pesquisa em livros, revistas, jornais, Internet...e a busca de informações com pessoas competentes no assunto (argumento de autoridade). Só pare esta coleta de argumentos quando tiver a certeza de que já possui dados suficientes para uma sólida argumentação.
2. Monte um plano inicial, com base das respostas obtidas a partir da reflexão sobre aspectos importantes do texto: Como expressará inicialmente o ponto de vista adotado sobre o assunto? Quais argumentos serão utilizados e em que seqüência aparecerão? Como concluirá o texto? Que posição vou assumir diante do assunto (favorável ou contra)? Que pessoa gramatical será empregada (1ª ou 3ª)? Que estilo prevalecerá (formal ou informal)?
3. Desenvolva suas anotações para obter o rascunho. Organize, com coerência e clareza, as idéias nos parágrafos. Coloque um título expressivo e que tenha relação com o texto.
4. Lance um olhar crítico sobre o rascunho, tentando fazer o papel do leitor que receberá o texto, ainda há tempo para melhorá-lo. Faça as seguintes perguntas:

- Meu texto defende clara e coerentemente um ponto de vista sobre o assunto que escolhi?
- Sustentei meu posicionamento com argumentos convincentes, boa seleção e estratégias argumentativas?
- Distribuí as idéias e os parágrafos numa seqüência lógica e de forma a facilitar a compreensão?
- Organizei adequadamente as informações e os parágrafos evitando confusão no seu entendimento?
- Usei uma linguagem adequada ao gênero textual e ao leitor?
5. Por definição, o ensaio não tem uma estrutura predefinida. Basta-lhe que, tal como recomenda o bom senso, tenha princípio (introdução), meio (exposição e argumentação) e fim (conclusão).
[1] Professora de Língua Portuguesa do Colégio de Aplicação/UFSC

Produção Textual Escrita: Ensaio Escolar

Tânia Mara Cassel Trott[1]

O ensaio escolar é um gênero textual no qual você pode expressar, de maneira consciente e crítica, seus posicionamentos em relação aos mais variados assuntos.
As pessoas tentam nos convencer, constantemente, de que a opinião delas sobre determinados assuntos merece crédito, e nós procuramos demonstrar para elas que o nosso ponto de vista a respeito desses assuntos também tem fundamentos consistentes.
A busca de progresso na produção de textos argumentativos deve ser um dos nossos objetivos dentro e fora da escola. Você produzirá seu texto, contendo uma reflexão particular e fundamentada sobre o assunto, objetivando levar o leitor a aderir ao ponto de vista defendido. Nesta proposta de elaboração textual, você vai escrever um ensaio escolar: texto argumentativo produzido em situação escolar.
O ensaio é um texto que expõe idéias, se dedica à reflexão crítica, mas ao mesmo tempo compartilha com a arte da possibilidade autonomia estética. Ele assume a forma livre sem um estilo definido. Sua natureza supõe diálogo, sua escritura supõe leitura.
Ensaios são simples opiniões, são tentativas de escritas. A cordialidade, a abertura, a polêmica são marcas da escritura ensaística.
Consiste na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema (humanístico, filosófico, político, social, cultural, moral, comportamental, literário, etc.), com um objetivo de apresentar e defender uma idéia.
Chama-se ensaio à representação de uma peça de teatro, antes de sua estréia perante o público, com o objetivo de verificar se tudo está como deve ser, do mesmo modo, muitos artistas plásticos chamam ensaio a determinadas fases, parciais ou de conjunto, das respectivas obras, antes de se considerarem prontas para a exposição.
O ensaísta utiliza a sua liberdade individual e se baseia na reflexão que faz sobre as matérias de que se trata, para sobre elas constituir um pensamento original.
No fundo, o ensaio representa sempre, seja qual for a matéria que verse, um ajuste de contas entre o conhecimento já detido pelo autor e aquilo que ele pretende conhecer.
[1] - Professora de Lingua Portuguesa do Colégio de Aplicação/UFSC